Em um reino não muito longe daqui havia uma princesa altiva por todos admirada por sua sabedoria e generosidade.
Sozinha administrava seu castelo fazendo crescer seus filhos na fortuna na sabedoria e na virtude.
Encontrava tempo para ensinar ao povo do reino as fábulas e canções do lugar ancestrais.
Cantando os ritmos ancestrais seguia o povo do lugar.
À noite, enquanto a lua e as estrelas bordavam o manto da noite e a servidão dormia seu sono leve e sem sonhos, a princesa deitava os cabelos negros em seus travesseiros e chorava seus lamentos.
Muitos não sabiam nem desconfiavam, mas a altiva em seu coração segredos guardava.
Somente os mais velhos do reino conheciam da princesa a história de suas solidões, mas por respeito e gosto aos ensinamentos nenhum comentava.
Se, por acaso, alguma criança ingênua e curiosa perguntava porque chora nossa princesa, a rainha anciã colocava o dedo indicador em riste no meio dos lábios dizendo:
– SHHHH!
E a leve harmonia da vida do povo do lugar assim se restabelecia.
Mas, como na história de homens e de mulheres nada permanece o mesmo, eis que a noite escura sucedeu as luzes daqueles dias.
Um Ogro baixinho carrancudo careca e de olhos fundos com seus exércitos de voluntários o reino da princesa invadiu.
Repudiando o canto do lugar como coisa velha e ultrapassada, introduziu lá naquele reino tantas e tão variadas modernidades que o povo do lugar regozijou-se.
E das fábulas e cantos pela princesa ensinados ninguém mais se lembrou.
E a princesa entristecida em anjo ridente se disfarçou e com suas asas protegeu os seus e para uma pequena vila se mudou.
Calma, a princesa feito anjo ridente suas solidões em cantos e melodias foi transformando.
Tudo ia bem e a história aqui poderia acabar se nova peripécia não a fizesse prolongar-se por meio de tão inconveniente personagem.
Qual ouro de tolo reluzindo o falso brilho de sua armadura penetrou naquele reino um cavaleiro e seu arauto barulhento.
Sem mais lembrar que outrora ali vivera melodiosa princesa todo o povo daquele lugar a rir se pôs daquele cavaleiro que pela voz de seu arauto uma princesa prometia libertar.
– Princesa alguma vive neste reino feliz com seu ogro, diziam todos.
– Somente um triste anjo ridente vive naquela vila distante, caçoou a criança ingênua.
Frágil em suas solidões, recebeu o triste anjo ridente em seu abrigo aquele cavaleiro de armaduras e couraças rangentes.
Bebeu com ele o vinho e ouvi-lhe as tristes canções inebriando-se de esquecimentos.
Ah! Doçura de ser para quem a paz parece mesmo não ser o destino.
Não é que aquele cavaleiro, que no leito do anjo sua espada deitou, despindo-se de suas couraças revelou corpo tão cheio de chagas e alma tão cheia de pestes que não restou ao triste anjo ridente outra coisa que fechar-se em ostra para resguardar a beleza de sua pérola barroca.
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