sábado, 11 de julho de 2009

A princesa, o anjo e a ostra

Em um reino não muito longe daqui havia uma princesa altiva por todos admirada por sua sabedoria e generosidade.

Sozinha administrava seu castelo fazendo crescer seus filhos na fortuna na sabedoria e na virtude.

Encontrava tempo para ensinar ao povo do reino as fábulas e canções do lugar ancestrais.

Cantando os ritmos ancestrais seguia o povo do lugar.

À noite, enquanto a lua e as estrelas bordavam o manto da noite e a servidão dormia seu sono leve e sem sonhos, a princesa deitava os cabelos negros em seus travesseiros e chorava seus lamentos.

Muitos não sabiam nem desconfiavam, mas a altiva em seu coração segredos guardava.

Somente os mais velhos do reino conheciam da princesa a história de suas solidões, mas por respeito e gosto aos ensinamentos nenhum comentava.

Se, por acaso, alguma criança ingênua e curiosa perguntava porque chora nossa princesa, a rainha anciã colocava o dedo indicador em riste no meio dos lábios dizendo:

SHHHH!

E a leve harmonia da vida do povo do lugar assim se restabelecia.

Mas, como na história de homens e de mulheres nada permanece o mesmo, eis que a noite escura sucedeu as luzes daqueles dias.

Um Ogro baixinho carrancudo careca e de olhos fundos com seus exércitos de voluntários o reino da princesa invadiu.

Repudiando o canto do lugar como coisa velha e ultrapassada, introduziu lá naquele reino tantas e tão variadas modernidades que o povo do lugar regozijou-se.

E das fábulas e cantos pela princesa ensinados ninguém mais se lembrou.

E a princesa entristecida em anjo ridente se disfarçou e com suas asas protegeu os seus e para uma pequena vila se mudou.

Calma, a princesa feito anjo ridente suas solidões em cantos e melodias foi transformando.

Tudo ia bem e a história aqui poderia acabar se nova peripécia não a fizesse prolongar-se por meio de tão inconveniente personagem.

Qual ouro de tolo reluzindo o falso brilho de sua armadura penetrou naquele reino um cavaleiro e seu arauto barulhento.

Sem mais lembrar que outrora ali vivera melodiosa princesa todo o povo daquele lugar a rir se pôs daquele cavaleiro que pela voz de seu arauto uma princesa prometia libertar.

Princesa alguma vive neste reino feliz com seu ogro, diziam todos.

Somente um triste anjo ridente vive naquela vila distante, caçoou a criança ingênua.

Frágil em suas solidões, recebeu o triste anjo ridente em seu abrigo aquele cavaleiro de armaduras e couraças rangentes.

Bebeu com ele o vinho e ouvi-lhe as tristes canções inebriando-se de esquecimentos.

Ah! Doçura de ser para quem a paz parece mesmo não ser o destino.

Não é que aquele cavaleiro, que no leito do anjo sua espada deitou, despindo-se de suas couraças revelou corpo tão cheio de chagas e alma tão cheia de pestes que não restou ao triste anjo ridente outra coisa que fechar-se em ostra para resguardar a beleza de sua pérola barroca.

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